27 de jun. de 2010

Cerro Azul nasce na época do Império

Um intenso movimento colonizador se fez sentir com o advento da província do Paraná, a partir de 1853. [...] Segundo o historiador Paranaense Romário Martins, “... Em 1875 tinha a Colônia Assungui 1824 habitantes, sendo 775 Brasileiros, 338 Franceses, 221 Ingleses, 202 Italianos, 171 Alemães, 16 Espanhóis e 1 Sueco”. (encontra-se escrito também Açungui). Os primeiros administradores foram: Barata Ribeiro, Manoel Nabuco e José Borges, que contribuíram para que o núcleo às margens do rio Ponta Grossa fosse elevado à categoria de Freguesia, em 2 de Abril de 1872, invocando as graças de Nossa Senhora da Guia, Padroeira.

D. Pedro II era pessoa culta e o símbolo cultural da época era representado por bibliotecas e museus. A população aqui assentada era também de pessoas com culturas étnicas diferenciadas: falavam os idiomas Alemão, Francês, Inglês, Italiano, Espanhol [...] Muitos entraram com qualificação “lavrador”, mais eram pessoas com curso técnico ou superior como foi o caso de Henrique Henning, construtor civil responsável pela construção e mestre de obras da Catedral Metropolitana de Curitiba e de muitas residências famosas (aqui fez morada na fazenda Olho d’água. Foi professor da escola de artes e ofícios de Mariano de Lima, em Curitiba) e José Heidegger, oficial Francês.

D. Pedro atendeu aos anseios do povo. Fase caracterizada pelas construções de bens físicos, como a Casa da Administração, onde está hoje a Câmara municipal (ali também foi Prefeitura, Fórum e mais tarde se alojaram Biblioteca e Museu. Na Igreja Central Presbiteriana em Curitiba, encontra-se também um livro ata de registros de casamentos, batismos e confissões de pecados, da antiga colônia Assungui, ou Açungui. Desta mesma igreja, conta o saudoso Professor Moacir Bassetti que, a pedido, o Imperador (Kaiser), da Alemanha mandou jarra e bacia de ouro para batizar os 12 filhos de Dona Elizabete Straube e dos von der Osten, cujas peças pertencem hoje à igreja luterana de Curitiba. [...] As obras deram impulso a colônia. Muitos colonos descendiam de famílias nobres da Europa e não se adaptaram a vida rústica do sertão paranaense. Uns regressaram à pátria. Outros mudaram-se para Curitiba e Santa Catarina. Os que aqui ficaram, raça de bravos heróis, lutaram com toda a sorte de dificuldades de um meio agreste e montanhoso, apesar da colônia estar dividida em quarteirões regionais (1°, 2°e 3° territórios) e estes nas chamadas “letras” de terras, contendo 12,5 doze alqueires e meio, igual a 302.500 m². As viagens eram nos caminhos de picadas na mata, sem estradas, usando as malas de couro (bruacas) ou cestos de taquara ou bambu, jacás e como meio de transporte o lombo de animais chamados cargueiros.

Povoaram a beira do Rio Turvo, Ribeira Acima, Ribeira Abaixo, a sede, beira do Ponta-Grossa e os demais lugares, se destacando os nomes: BRAINE, BODY, BALLES, BUARD, BICHELS, BLUM, BARBIOT, BRIATORI, BOULARD, BASSETTI, BRUNO, CHANAN, CROPOLATO, CHANDELEUR (ier), CLUG, COPELLLETTI, CRIPPA, CHARQUETTI, CIOLA, CERBELO, DESPLANCHES, DEPETRIS, ERAT, FITZ, GERALD, GILLIET, SCHEFFER, GEFFER, GLODIS, HILMAN, JAQUETTI, RAAB, RESTORFF, SAISS, SAID, SCHENAIDER, SEGAT, STRAUB, ROSNER, TIBLIER, VELMAN, WELCH, WOCH, WOLKER, VON DER OSTEN, WIGRT, PAIK, MATIAS, PERRONI, MAUGGER, DRINGOT, GRINGOT, GLUG, BLETNER, e tantos outros. (com o passar do tempo muitos nomes modificaram sua ortografia e fonética, com som abrasileirado).

Cerro Azul, dependendo a data que se toma de referencial, fundada em 1860, viveu 29 anos sob o domínio imperial. [...]

Texto: Dr. Ruy Guiguer, no estudo “Acordem, Cerro-azulenses”
Adaptação: Prof. Vania de Moura e Costa

A Revolução de 1930 passou por Cerro Azul!

Em 1930, O Prefeito Alberto Domingos Bassetti foi deposto pelos militares por ocasião da Revolução e escapou de ficar preso graças a influência do chefe político e cunhado Ricardo Emygdio Ribeiro, ficando confinado em sua casa. Sobre o episódio da passagem das tropas, contava o saudoso Prof. Moacir Bassetti, no estudo “Acordem Cerroazulenses, Acordem!”:
“Era uma manhã de 1930. Pela primeira vez um aviãozinho, de cor vermelha, apareceu roncando nos céu de Cerro Azul, causando pânico nas pessoas e nos animais nos campos. Conta - se que muitos se enfiaram embaixo da cama de medo desse objeto voador, dantes nunca visto. Tropas chegaram do Rio Grande do Sul e acamparam em terras dos Bassetti, onde hoje é a Igreja da Assembléia de Deus e outros contingentes em terras de Otto Bichels. Montaram o quartel general na esquina, onde hoje é a lanchonete “O Casarão”. Cerro azul virou uma praça de guerra. Os jovens foram convocados para prestação de serviço militar de sentinela, dia e noite, das tropas. As reservas alimentares do comércio e particulares de Cerro Azul foram requisitadas para a tropa acampada, principalmente os melhores cavalos. Com a chegada de mais tropas vindas do sul, partiram rumo à divisa de são Paulo, pois queriam chegar ao Rio de Janeiro, Distrito Federal, e depor o governo do Presidente Washington Luis. Um porém existia: era preciso atravessar o rio Ribeira. Devido à chuva, o rio estava muito cheio e o balseiro Luiz Ricce, auxiliado por Aladim Monteiro na balsa velha, advertiu o comandante que não carregasse muito a balsa por que poderia afundar. O comandante, autoritário, replicou: _ Você não entende nada disso! Entraram todos na balsa, portando seus armamentos, munições pesadas, caixas de balas, burros atrelados com metralhadoras, cavalos de montaria dos oficiais. E começou a travessia... No meio do Ribeira, o peso era tanto que aconteceu o inevitável: a balsa afundou com tudo e todos, a maioria morrendo afogada. De repente, cavalos adentraram na cidade disparados com arreios de atravessado, provocando nas pessoas circulantes admiração. Tinha chegado a notícia: a balsa afundou no Ribeira! Foi um grande acidente: corpos encontrados ao longo das margens. Nesta ocasião a carretilha da balsa pegou a mão do balseiro Ricce, amputando os dedos de uma de suas mãos. No final ficou tudo sepultado no fundo do Ribeira, somente a balsa flutuava. Um capitão valente e autoritário, de quem ninguém gostava, salvou-se agarrando – se numa das pedras e com a arma na mão bradava, pensando que do lado oposto ao Rio Ribeira era o Estado de S. Paulo: “_ Daqui pra frente matem todos os animais e saqueiem as casas. Prendam os resistentes!”. O trágico aconteceu: o Ribeira foi enchendo enquanto ele gritava. As águas revoltas e encapeladas tragaram o capitão. Com a vitória do movimento revolucionário chefiado por Getúlio Vargas Cerro Azul voltou à normalidade.
Texto: Dr Ruy Vilela Guiguer

26 de jun. de 2010

Cerro Azul

Perco-me no verde
De suas matas
Flutuo e viajo no céu azul
E a noite encanto-me
As estrelas são o cruzeiro do sul
Seu ar puro
Faz-me viver
No campo ou na cidade
Mergulho no segredo
Da relva ao entardecer
No silêncio do íntimo amanhecer
Cerro Azul impossível esquecer
Simplicidade sem vaidade
Felicidade por inteiro
E não pela metade
Avisto à distância o horizonte
Não há fim hoje
E nem ontem
Uma colina azul
Entre outros montes
Sei que irá existir
Na lembrança
Ou no meu dia a dia
Enquanto houver vida
Cerro Azul paraíso
De quem sabe
No íntimo da simplicidade
E no intenso
Da felicidade viver!
Já disse o poeta:
“Não faças versos sobre tua cidade.
Não a exalte, porque isso não é verso.”
Como esquecê-la?
Cenas vividas
Cenas inesquecíveis
E a poesia por mim sentida!

Adriane Agne Scremin - 27/02/2002

Casa Amarela

Localizada na entrada da cidade, é um dos casarões de Cerro Azul mais bem preservados, tanto em seu interior quanto no exterior, tendo inclusive sido mostrada em reportagem de televisão da Rede Paranaense de Televisão. A casa recebeu também em 2005 a visita do Governador Roberto Requião, quando este almoçou em Cerro Azul. Data-se sua construção em 1919. Inicialmente era um sobrado em estilo colonial alemão com 400m2 que foi construído pelo mestre de obras João Banack, a pedido do primeiro proprietário Wielland von der Osten (um dos seis filhos do imigrante alemão Alfred von der Osten), para sua residência e comércio de secos e molhados, a varejo e por atacado e de víveres. Existia ao lado um depósito de mercadorias que servia para a pousada dos tropeiros vindos de longe com seus cargueiros para abastecer. O porão alto da casa estocava em tonéis de carvalho de 3.000 litros a famosa “Cachaça von der Osten, com o rótulo “Água Ardente de Cana Cerro Azulense”, muito procurada. No fim do ano, eram realizados festejos de Natal, aproveitando a enorme área aos fundos com arcos e colunas de sustentação, abrindo as portas ao povo. Falecendo Wielland em 1932, seu filho Eduardo comprou as partes dos demais herdeiros irmãos, tornando-se o único proprietário e manteve a continuidade comercial ao povo até 1980. Aposentado, passou a residir em Curitiba. Hoje a propriedade pertence à Sra. Leda Osten Costacurta, sua filha. A beleza da casa serviu de fonte de inspiração de um jovem artista cerroazulense – Jesiel de Cristo, que a desenhou.
Fonte: Inventário Cultural de Cerro Azul
Texto: Dr. Ruy Vilella Guiguer



Dr. Waldomiro Pereira

Dificilmente alguém não terá ouvido falar do Dr. Waldomiro Pereira. Na nossa praça Monsenhor Celso existe até um busto em homenagem a ele. A Gazeta do Povo, Jornal de Curitiba, no dia 21 de Novembro 1974 divulgou alguns dados da sua biografia:
“Nascido em Cerro Azul, a 19 de Fevereiro de 1914, Waldomiro Pereira estudou com grandes dificuldades até graduar-se medico em 1954. Mas desde os 12 anos iniciou suas atividades homeopáticas no estabelecimento do saudoso Domingos Duarte Veloso. Adquiriu a farmácia homeopática que atendia enquanto estudava medicina na Universidade do Paraná”.
Dr. Waldomiro Pereira foi “reconhecidamente uma autoridade mundial no campo da homeopatia. Não se preocupou apenas em clinicar: montou clínica, laboratório e farmácia para atender à população que o procurava intensamente. Dedicou-se de corpo e alma aos pacientes que acorriam de toda parte da cidade, do interior e de outros estados para obter uma consulta”. O saudoso Dr. Enio de Moura e Costa afirmou que o Dr. Waldomiro Pereira era muito ativo e viajava até pelo exterior participando de congressos internacionais de medicina. Dr. Waldomiro vinha muitas vezes a Cerro Azul a passeio para pescar com os amigos e para beber doses nada homeopáticas de cachaça que às vezes o deixavam caído. Este era, talvez, o seu lado mais cerro-azulense, o lado pelo qual ficou conhecido e que ficou gravado na memória dos que conviveram com o Dr. Waldomiro. Dr. Enio dizia que Dr. Waldomiro nunca trazia para Cerro Azul os seus aparelhos médicos porque não vinha aqui para clinicar. Quando precisava dos aparelhos para atender algum cliente persistente pedia emprestado ao Dr. Enio. O nosso vulto histórico vinha a Cerro Azul para descansar, para fazer piquenique e para beber cachaça como o cerro-azulense gosta. Passar por cerro Azul naqueles tempos sem beber cachaça era algo impensável, era como ir à Igreja e não rezar.
Fonte: Inventário Cultural de Cerro Azul
Texto: Dr. Ruy Vilela Guiguer